Em Portugal exercer o direito adquirido
de condução é um ato que nos aproxima do fundamentalismo muçulmano! Eu sou
conhecedor, tanto do fundamentalismo como da condução muçulmana e por vezes
pergunto-me, se não seria melhor adoptarmos o seu “modus operandi”… Pelo menos,
na condução!
Priorizávamos ao som da buzina, escolheríamos
o percurso independentemente da sinalização vertical ou horizontal e ignoraríamos
todas as demais regras gerais de boa conduta, na procura dessa alegria que é o
caos no tráfego! Mas, pelo menos, as regras seriam iguais para todos!
Antes de mais, faço um “mea culpa”,
principalmente por alguns impropérios vociferados aquando do esgotar da
paciência, assim como, na opção de uma condução dita mais agressiva, na
tentativa de fazer notar algumas regras básicas aos “reis da estrada”! Posto
isto e apenas como desabafo, queria aqui expressar um robusto e poderoso: “Prostituta
que Pariu”!
Arrepia-me, eriça-me, em suma,
causa-me horror, a falta de civismo do poder de conduzir. Sim, porque a conduzir
nós estamos em plenas funções ditatoriais, onde todos têm de obedecer ao
déspota que há em cada um dos parceiros de estrada…
Eu bem sei que os tempos são difíceis,
que a conjuntura, o sexo, a política, o chefe, a cara-metade, a brigada, o
médico, a imaturidade, o desemprego, as audiências ao Sr. Presidente da República,
a azia desportiva ou a conta do almoço que caiu mal, convergem no sentido de necessidade
de exteriorização, através da condução sem civismo, do nosso desagrado pela vida
miserável que possuímos, mas há situações evitáveis malta, assim tipo, por
exemplo:
- Chego a um entroncamento com parca visibilidade, passo por lá há 729 anos, sei que para verificar se existe a aproximação de algum veículo, das duas, uma: ou projeto o meu próprio trono de poder para o meio da estrada, impossibilitando a passagem com prioridade de quem vem da esquerda, visto conseguir reparar num STOP que ignoro há 729 anos, bem como, aterrorizando quem vem da direita e que pretende virar para a via de onde me desloco, ou, quiçá num esforço inglório físico e cívico, ao invés de colocar o meu 20 cilindros com 12.000cm3 de cilindrada na porra do meio da estrada (reparem que evitei aqui o uso da palavra caralho!) e apenas virar o meu frágil pescoço para ambos os lados, refreio o meu ímpeto meio metro atrás e num movimento dolorosíssimo, lutando contra a porcaria do cinto (aqui evitei o uso da palavra merda!) forço o meu tronco para a frente e só depois utilizo a torção do pescoço para verificar o trânsito, evitando congestionar tudo que tem motor e se desloca na via pública! Em suma, evitando a fornicação do estado de paciência e deterioração da saúde dos restantes beneficiários sociais que possuem um ‘renô nobe’! (note-se, no entanto, que tanto o gajo pedreiro que possui o ‘forde fiesta’ de 1992 como o Sr. Engenheiro que se desloca no ‘b-éme’ de 2014, apesar de antagonicamente possuírem graus de escolaridade díspares, possuem o mesmo grau de civismo! Curiosíssimo, não?)
- Vou na autoestrada, encontro uma subida prolongada onde se verifica o alargamento da pista de rally para 3 faixas, mas decido continuar a minha marcha pela do meio, independentemente da marca do meu bólide, a uma impressionante velocidade de 60kms/h (vulgo mach 3 = 1020,87 m/s!) porque: possuo uma fobia de raides ou taludes muito íngremes; no meio está a virtude; já não tenho idade para conduzir em segurança por qualquer uma das outras duas faixas; não sei ler; sou um amante do ‘tuning’ e o meu trono tem de ser exposto de modo a ser visionado de todos os ângulos; no meu tempo só havia 2 faixas e conduzo na que estou habituado; quero falar ao telemóvel e aqui tenho maior margem de erro; à velocidade terminal que me desloco posso não ter tempo de reparar num camião de 14 toneladas que vai a subir na faixa da direita a 70kms/h; é de noite; não conheço a via e assim posso andar mais depressa (60kms/h); sou energúmeno; possuo o civismo de um rinoceronte; gosto de brincar com a vida dos outros; sou distraído e levo o rádio ligado; apetece-me prestar o mínimo de atenção possível ao caminho e à condução; sou acionista da Brisa e isto é tudo meu; desloco-me numa viatura oficial do Estado e vou a uma audiência com o Sr. Presidente; etc.
Chega de exemplos que estou a
ficar azedado!
Bem, hoje vou de comboio (fica
para outra oportunidade o que se passa no vagão…) ou fico em casa, a pé é
muito longe!
Boa deslocação motorizada,
ZC
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